"(...) there is consensus over the need for active ecological citizenship because of the recognition that the transition to a sustainable society requires more than institutional restructuring: it also needs a transformation in the beliefs, attitudes and behaviour of individuals" - Neil Carter

Diário de Bordo

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Desde que nos lembramos que nos sentimos bastante sós no que respeita às questões ambientais. Fomos sempre os esquisitos que separavam e reciclavam quando ainda quase ninguém o fazia e nós, para o conseguirmos fazer, tínhamos que nos deslocar ao Concelho vizinho, porque no nosso ainda não existiam contentores. A maioria dos nossos próximos sempre nos acharam um pouco bizarros quando começámos a separar o lixo orgânico para compostar, a separar o papel impróprio para a reciclagem e as cascas dos frutos secos para acender a lareira, a guardar frascos e latas para reutilizar, a recolher a primeira água do banho com balde, a deixar de usar amaciador na máquina da roupa, a levar os filhos à escola a pé, a optar por produtos biológicos, a lavar a casa com vinagre, a interessar-nos por Permacultura e coisas como casas de banho secas ou outras "bizarrias" do género de que agora nem me lembro. Nunca afetou a nossa determinação. Amamos a Natureza, amamos a Terra e a Vida nela, a Vida Humana incluída. Ponto final.

Ultimamente, com as redes sociais e todos os movimentos em prol da Sustentabilidade que têm surgido no mundo nos últimos anos, tomámos consciência de que estamos muito longe de estar sós, de ser únicos ou "bizarros". Há cada vez mais pessoas realmente bem informadas sobre os enormes desafios que enfrentamos para garantir a Sustentabilidade da vida no planeta e a ganhar uma forte consciência ambiental. E há cada vez mais pessoas dispostas a fazer as mudanças necessárias.

Apesar desta consciencialização cada vez mais global, a Sociedade Civil em Portugal tendeu sempre a ser bastante lenta, morna e desinteressada no que respeita a abraçar ou a envolver-se em movimentos ambientais. Quando ainda não há sequer um ano, aderi no Facebook ao grupo Lixo Zero Portugal criado pela Ana do blog Ana, Go Slowly e da comunidade Zero Waste Portugal - Lixo Zero, o grupo tinha sido criado recentemente, ia em cerca de 70 membros e eu não tinha grandes expetativas relativamente ao seu crescimento. Nós já tínhamos reduzido bastante o nosso lixo com a compostagem, a reutilização e o restauro, mas procurávamos informação para tentar obter ainda melhores resultados. A Bea Johnson tinha acabado de passar por Portugal e tínhamos ficado a conhecer o seu trabalho. Também tínhamos visto o documentário "Demain". Estávamos plenamente motivados e decididos a dar o nosso melhor. Pela mesma altura instalámos energia solar. Estávamos mesmo determinados a reduzir o mais possível a nossa pegada ambiental.

Entretanto, a nossa vida pessoal complicou-se drasticamente e atravessámos um dos anos mais difíceis, conturbados, sobrecarregados, stressantes e tortuosos das nossas vidas. O furacão de problemas que virou a nossa vida de pernas para o ar foi tal que nos fez regredir em vários aspetos da nossa caminhada por uma vida mais sustentável. Sobrecarregados e sem tempo, cozinhámos muito menos em casa, recorremos muito mais aos pré-preparados, ao fast food e ao take away sem qualquer consciência ambiental, parámos de fazer os nossos próprios iogurtes e kefir, nem sequer fizemos as nossas conservas habituais com a fruta do quintal (exceto uma tachada de marmelada!), deixámos acumular um monte de projetos de restauro e recuperação, não cultivámos a nossa horta. Foi de tal maneira avassalador e deprimente, que cheguei a cogitar com os meus botões desistir desta jornada e deixar-me levar na corrente do "não te rales". Questionei-me se valeria a pena o esforço, pois enquanto fossemos meia dúzia de "bizarros" não teríamos qualquer impacto em reduzir as agressões ao planeta.

Mas enquanto nos reorganizávamos como Família e criávamos músculo e resiliência para lidar com as adversidades que nos bateram à porta, tentando não perder o nosso norte e a nossa essência, íamos mantendo sempre um pé no grupo Lixo Zero Portugal. Para nossa enorme e agradável surpresa, fomos vendo o grupo crescer. Começámos a aprender juntos, tanto comportamentos e hábitos mais sustentáveis, como respeito mútuo. Começámos a motivar-nos a prosseguir cada um ao seu ritmo e dentro das suas possibilidades, a apoiar-nos e até a conhecer-nos. Isso fez desvanecer as ideias negativas que me passavam secretamente pela mente. Afinal estamos bem longe de estar sós, estávamos apenas isolados. O crescimento, o empenho e o envolvimento do grupo não tem cessado de nos surpreender e de nos dar força. Afinal somos muitos, andávamos espalhados, mas estamos a juntar-nos, a aprender juntos, a entreajudar-nos e a contribuir como podemos. E com imensa vontade de fazer acontecer, de contribuir de algum modo, cheios de energia e iniciativa. O que é que isso muda? Para começar, o tamanho do nosso sorriso. E a Esperança.

A Esperança fundamentada em ações, em mudanças reais, que provam que é possível viver de um modo mais sustentável sem ter que voltar ao tempo das cavernas. Prova viva disso foi o evento Desperdício Zero que aconteceu na Biovilla em plena Serra da Arrábida em Palmela no último sábado dia 15 de Julho, há precisamente uma semana. Organizado pela Ana e pela Inês do grupo Lixo Zero Portugal em conjunto com a Biovilla Sustentabilidade, o evento foi uma oportunidade para alguns membros do grupo se conhecerem e conviverem juntos e teve uma adesão verdadeiramente inesperada e surpreendente. De tal forma que foi necessário limitar as inscrições devido aos condicionamentos de segurança de um evento que ia acontecer em plena Serra num dia de grande calor.

Este encontro comprova que os eventos não precisam de ser máquinas de produzir lixo que poluem tudo em seu redor, incluindo rios e oceanos. Passaram por lá mais de trezentas pessoas e o lixo produzido no final nem sequer encheu os caixotes da foto acima. Ainda bem, porque seria verdadeiramente insuportável ver acontecer na Serra-Mãe, como lhe chamou o nosso querido Poeta Sebastião da Gama, o que vejo em alguns lugares que ficam transformados em autênticas lixeiras. É só uma questão de mudarmos alguns hábitos. É possível. Há mudanças que vêm mesmo por bem e precisam de ser abraçadas de alma e coração.

 

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Cidadania proativa, Eco-ativismo, Sustentabilidade, Desperdício Zero, Cidadania Ecológica, Objetivos Desenvolvimento Sustentável